Antonio, Francisco e as conexões humanas
Tem sido divertido estudar sobre os santos. É um mundo que nunca tive acesso e me encanta. Espero um dia conseguir compartilhar a parte histórica, mas estou bem longe disso. Por agora, fico com as viagens e as experiências.
Muito do que nos acontece é categorizado para alguns como coincidências, para outros como formas de conexões invisíveis. Eu me encaixo nessa última. E não, não preciso de comprovação científica. Brinco que vai que a ciência evolui nesse aspecto, mas só quando eu estiver pra morrer. E as pessoas aceitam, em sua maioria, que nos comunicamos muito além do que já sabemos? Eu, que vejo e aceito essa verdade desde criança, vou morrer é de raiva por não ter defendido meu ponto de vista do que não se vê, mas se sente.
Ponto de vista do que não se vê. É uma questão de estar presente e com olhos abertos para ver o que se passa para além do óbvio, do que se explica. O objetivo aqui hoje é contar passagens que nos encantam. Ah! Como precisamos. Chamei uma grande amiga pra compartilhar sua ligação com o santo, e vou aproveitar o espaço pra contar uma minha também. Não era o planejado, mas já entendi que prefiro escrever assim. Igualzinho a vida. Quase nada conforme o planejado.
O ganho de quem vê
Vivi uma grande perda não humana no dia 10 de Janeiro de 2022. Alguns anos antes, uma grande perda humana, na mesma data. Minha avó Amélia. E isso quer dizer 10 dias antes do meu aniversário.
Bem, resolvi tirar uns dias de férias nas montanhas lá na fronteira com a França. Neve e céu azul. A realização de um sonho! Estava eu caminhando nas trilhas e resolvi ligar para meus pais viajarem junto, coisa que há muito não fazia. Amo levar eles comigo. Aquele cenário era inédito.
Eis que, o jogo vira.
Eu, lá em cima, toda feliz. Eles, preocupados, no veterinário. A vida prega cada uma. Voltei e em questão de dias, meu pequeno Hood se foi. Que dor, meu Deus. Dor de não estar com ele, dor por todas as vezes que não deu certo receber meus cães aqui, dor por ter sido no dia que estava comprando a passagem deles. Dor, dor, dor. Perdi meu amorzinho, peguei covid e estava grávida. Sem falar pra ninguém devido meu histórico de perdas gestacionais. E sim, um mês depois, mais essa perda.
A minha fé em Deus sempre me ajudou e eu nunca me revoltei com a vida. Essa foi a única vez. Alí percebi o quanto estava ferida, cansada. Pandemia, perdas, demoras, ansiedades acumuladas, encontros adiados. Meus doguinhos chegarem naquele momento seria muito importante pra mim. Estava esperando, contando os dias. Foi um choque.
Uma perda carrega em si muitas outras perdas. Pode crer. E são nelas, que temos a opção de morrer em vida, ou transcender.
Ganhei um terço de São Francisco e só ele me veio à mente. Só ele poderia me ajudar. O santo dos animais, o silêncio, a reza. Aos poucos o coração foi se acalmando. Fui vendo a luz. Minha rebeldia dura pouco, sou obediente com a vida. Confio que ela sabe mais que eu e me dará tudo que preciso para seguir caminhando.
Foi assim, que na hora que terminei o terço, ao abrir os olhos, minha mãe liga. Ela acabava de chegar com o Hood e iria enterrá-lo. Choramos juntas antes dela ir. Sofri também porque não queria esse peso pra minha mãe. Santa mãe. Esses pequenos são puro amor e ele era o queridinho dela. Assim que atendi o telefone, ela se mostra assustada com um passarinho. Disse que ele se movimentava de um jeito muito estranho. Que nunca havia visto antes, batia as asas e pulava nos galhos dando até a impressão que iria atacar. Eu sem entender nada, esperei. Ela diz: Emília, nunca vi isso.
Até que caiu minha ficha. São Francisco e seus pássaros. Comecei a chorar, emocionada, e contei pra ela. Ela contou que na hora que colocaram o Hood na terra, ele ficou quietinho num galho. Meu pai, claro, deu risada. A gente se entende bem nas nossas crenças e descrenças. O fato é que eu não sei explicar, mas imagino que no mundo, existam uns fios que a gente não vê. E essa comunicação flui, nos fazendo ver em forma de símbolos e supostas coincidências.
Saiba no que acredita. No que te eleva. No bem, apesar da dor.
Acredito que ao rezar por São Francisco, eu e milhões de pessoas durante séculos criamos uma ligação. E ao nos conectar através de rezas, pensamentos, juntos iremos ver além. Se você me lê em 2.223, talvez ache estranho que éramos tão primitivos nas formas de comunicar. Hoje, ainda é uma batalha falar do invisível. E nos achamos muito evoluídos. Vai vendo.
Enfim, foi um alívio no coração essa orquestra de fatos, prantos e cantos. Uma poesia em meio à despedida do meu pínxipe. Não me julguem, sei que todos dão apelidos desse nível para seus peludos.
Agora, pra finalizar, quero contar uma história humana. Também de perdas, e de alegria. Foi no curso de Constelação Sistêmica que conheci a Evelyn. Já na primeira aula eu vi aquela carinha no Zoom e sabia que iria gostar dela. A amizade cresceu e se mantém. Nossas conversas são profundas. Enviamos podcasts semanais contando nossas percepções sobre relações humanas, basicamente. É muito rico. E a conexão é imensa. Sempre nos ouvimos na hora perfeita. Na hora que precisamos. E por isso nunca temos culpa se atrasamos nossos conteúdos. Foi assim, que na sua perda gestacional, estava eu no carro, ouvindo uma música que me toca muito, Igrejinha de São Damião, e resolvi enviar para ela. E falar sobre São Francisco.
Foi uma das vezes que notei nossa forte conexão. Ela me diz que havia escolhido o nome Francisco para seu pequeno que se foi. As almas breves, que nos ensinam tanto sobre amor. Eu já conhecia aquela dor. Nos conectamos mais ainda na perda, no compartilhar sobre esse luto tão sofrido e tão pouco visto, validado. A gente sente que as pessoas não querem falar. É desconfortável falar de morte quando a gente queria comemorar a nova vida. Ah, se elas soubessem o tanto que queremos falar sobre nossa dor. Tem gente que reforça dizendo pra contar só depois do terceiro mês, para evitar sofrimento. Gente, o sofrimento não se evita. Esconder esse fato é a maior dor depois da perda em si.
Com essa reflexão, que sei, tocará o coração de vocês e levará à reflexões, deixo aqui as palavras da Evelyn. Pedi pra ela contar alguma história ligada ao santo. Quero, quando possível, trazer pessoas e suas histórias para esse espaço. Ele se chama Novas e não Nova Amélia por algum motivo.
Recentemente ouvi uma viagem de um padre em Assis e ele contava sobre a amizade de São Francisco e Santo Antônio. E eu comentei com a Evelyn que não sabia nada disso e ela retorna contando que havia descoberto a pouco e narra seu encontro aleatório. Rimos muito, pra variar.
Abaixo suas palavras delicadas e com o tom que me faz sorrir. Sobre Antonio e Francisco.
Agradeço, cara amiga.
Até breve, queridas pessoas. Se você tem uma história de fé, de conexões com São Francisco, fique à vontade para enviar. Vamos aumentar os laços invisíveis, num mundo que precisa de paz, de boas palavras, de simples e significativas histórias.