Autoconhecimento

Conversas Ancestrais

Todas as coisas contam alguma história. Nessa foto tem uma cadeira antiga, que foi presente de casamento para os avós do Mattia. A nonna quando soube que reformamos, contou toda alegre de quando ganhou o conjunto, logo me levando pra ver o que ainda tem na sua casa. A máquina de costura antiga foi de uma senhora que deu para o meu sogro guardar, e eu encontrei na garagem com olhos de criança que ganha brinquedo. Como é bonito ver algo que estava parado, esquecido no canto, ganhando vida. Tem também o quebra-cabeça do mapa do mundo antigo. Não dá para ver, mas tem alguns fios de lã, de malha também.

E ao ver todos esses objetos, me vejo. O gosto pelo antigo, pela reforma, pela continuação. Logo, penso na vida. Sento na cadeira baixinha e viajo bem alto. É meu canto de transbordar.

Os fios invisíveis

Assim como os fios do crochê moderno, se entrelaçam pra dar forma a algo, são também os fios dos nossos antepassados. Somos nós em formação. Apesar de únicos, não somos independentes.

O ser humano é feito de encontros.

Nos fios que não vemos, carregamos o jeito de fazer de um, o modo de falar de outro e preferências, que vez ou outra, descobrimos já ter sido marca de alguém da família. Tudo isso é muito bonito, ou não. Só que na vida, pouco importa nosso julgamento. Estamos à serviço de algo Maior, que conecta todos esses fios com maestria.

As dinâmicas familiares são estudadas e observadas constantemente. Quantas histórias curiosas já não ouvimos? Toda família consegue reconhecer repetições e fatos que parecem coincidências. Meu pai é como um guardião de nomes e fatos da família. Quando alguém quer saber algo, vai até ele. Somando a esse lado que herdei, tive como trabalho o reconhecimento da cidadania italiana que me faz ver não só as árvores genealógicas, mas o que cada pessoa representava. A importância de cada lugar ocupado. E também, como as sombras do passado pedem passagem. A distância física ou de gerações não conta quando o assunto precisa ser visto. Vai além do que podemos compreender.

A vida chama por evolução. As questões se apresentam, não como algo ruim a ser retirado, mas a ser transformado. 

A questão é saber se queremos ver. Os fios que nos formam.

Negamos as lições?

Lembro na escola que pavor era repetir de ano. Todo mundo dava um jeito de aprender. Aula extra, estudo em grupo, aula particular, o tal reforço. Aprender por obrigação, pra passar de ano. Não seria igual na vida?

Não seria a família esse conjunto de lições a serem aprendidas em conjunto?

Essa reunião de almas trabalhando na evolução? Os amigos, o reforço? O terapeuta, a aula extra? A natureza, a sala de aula? Creio que sim, e experimento as maravilhas das curas do passado. Meu e dos meus. De onde vim e para onde vou.

Somos muitas querendo não ter medo de ver, não ter medo de sentir as dores que carregamos, ainda que inconscientes. E mesmo quando já conscientes, elas tem fases a passar. Viver de verdade dá trabalho. São pequenas vitórias diárias. Entre o antigo e o novo, me reencontro. Bonito de ver, de viver.

Sobre os objetos da foto, quem sabe um dia aprendo a usar a máquina, senão, será apenas (e não menos importante), uma espécie de móvel e escrivaninha de emoções. Que vez ou outra, somente diante dela consigo deixar ir os pesos que pedem transformação. Exercícios para a alma, num dos espaços sagrados que criei para cuidar de mim. E do que chega até mim. E me abro para ouvir e ver conversas ancestrais. Eles tem muito a dizer.