Viagens com Significado
Todo lugar desperta algo em nós.
Todo lugar fora do nosso contexto tem o poder de nos fazer ver melhor. Nossos sentidos estão aflorados, e se adicionarmos intenção nesses movimentos, podemos descobrir mais sobre quem somos. O destino passa a ser não somente o ponto bonito e interessante no mapa, mas algo que vamos explorar do lado de dentro também. É ter uma intenção e estar com a atenção no que se apresenta. Sem rigidez nos roteiros e no planejamento. É se abrir à experiência.
Londres: onde tudo começou
Esse tipo de viagem despertou em mim quando decidi ir para Londres, e minha vida estava mudando em todos os aspectos. Senti que era momento de pedir ajuda e sem dúvida foi lá que aprendi a nunca mais viajar somente para conhecer lugares. Era muito mais interessante aprender a me ver atuando no mundo desconhecido, levar uma situação que estava passando e perceber se havia alguma pista para ampliar meu olhar e me ajudar nos caminhos da vida. Que é em si uma grande viagem, não é?
Poderíamos dizer que é uma forma de viajar com passos mais lentos. E isso não quer dizer não aproveitar, ir a vários lugares, fazer muitas fotos, sair cedo e caminhar até tarde da noite. Não é sobre isso. É sobre fazer tudo isso e estar presente. Posso garantir que é possível. Já fiz o teste de Londres a Assis. E recebi muito mais do que eu imaginava. O destino é que vai dar o ritmo.
Escrevo só o que sinto
Falando em destino, resolvi começar por Florença. Acho interessante quando a gente confia no tempo das coisas. Poderia ter sido Londres, que além de ser o lugar preferido é o mais recente. Mas não, escrevo só o que sinto. E, coincidentemente, notei que vou escrever e colocar as fotos justamente do Outono passado. Que agora, no Brasil é presente. E é a melhor das estações, aquela que me dá saudade profunda. Então vou reviver aqui nesses próximos textos que virão.
Para falar sobre Florença, preciso voltar no tempo. O primeiro encontro foi em 2016 quando eu e minha irmã, que morávamos juntas em Londres, resolvemos que não iríamos voltar para o Brasil sem antes viajarmos juntas para a Itália. Havíamos apenas cinco dias, uma janela de tempo entre ela voltar do Caminho de Santiago e a ida para o Brasil. Lá fomos nós entre Veneza, Florença, Roma e Jesi. Sim, essa cidade que moro hoje. Foi o local que nosso antepassado italiano viveu antes de ser imigrante. Visitamos as cidades em que eles nasceram. Foi muito significativo para nós, tudo fluiu bem. Quando a gente sabe onde está indo, de coração aberto e sem reclamação, tudo caminha melhor.
Mas voltando a Firenze ou Florença. Ela é pequena, aconchegante e acolhedora. Tem um ritmo bonito de ver. É lugar para pedir um cappuccino com calma, um gelato para passear lentamente. Caminhar, caminhar, caminhar. Um entardecer incrível, as músicas na praça à noite, o carrossel. Enfim, são momentos inesquecíveis. Já que aqui falamos do sutil, Roma pra mim é o masculino, o Sol, gigante, a força de ir. Florença é o feminino, a Lua, a gentileza, o acolhimento. Gosto de me referir a ela como a cidade que abraça. É uma sensação de bem estar imediato. Até me arrepia lembrar.
E me vem a frase, lá a gente não caminha, flutua. É a arte, a beleza em cada canto que a gente vai. É divina.
Os elementos da viagem
Nessa introdução, quero falar além da escolha do destino alinhado ao momento da vida, sobre a companhia. Meu Deus! Como essa parte é importante. Já vi muita gente dizer que teve sua experiência arruinada por más companhias. Tenho pra mim uma regra. Só viajo com quem tenho afinidade. Sei que algumas pessoas dizem que por questões de grupos de amigos ou família, se veem sem ter muito o que fazer. Bom, aí vai de cada um. Bancar a “antipática” que não vai ou ir sabendo o que espera. Eu me pergunto quantas outras situações estamos nos forçando a passar a vida ao lado de pessoas assim. Saber dizer não é libertador.
Gosto demais também do roteiro. Ele pode representar a forma que vivemos. Pesquiso antes? Uso app ou ainda prefiro mapa? Faço um roteiro, ainda que mínimo ou vou deixando a vida me levar, vida leva eu? Confio que quem vai comigo pensará em tudo ou tomo a iniciativa? Compro ingressos com antecedência ou vejo o que for possível? São muitas perguntas que cabem aqui.
O outro ponto é a bagagem. Esse símbolo eu adoro. É sempre muito didático perceber o que levamos na mala, como preparamos, carregamos e nos movimentamos com ela. Não canso de ver gente que carrega coisa demais numa mala grande, gente que carrega coisa demais entre mala, mochila, sacola e casacos que nunca cabem. Gente que pensa em todos os looks, gente que viaja com o essencial. Gente que não viaja sem livro e caderno. Gente que é toda cheia de acessórios tecnológicos e outros que nunca lembram das várias tomadas pelo mundo. Tudo isso são pistas sobre como somos nas nossas relações. A pessoa que carrega o mundo nas costas dificilmente viaja de forma leve. A pessoa que coloca tudo de qualquer jeito na mala, talvez não saiba que a organização e o capricho facilitam a vida.
A pergunta é: o que eu preciso? O que posso deixar.
Exercícios nos movem internamente
Quem quiser fazer um exercício, escreve num papel e lembra dessa passagem que é feita no Caminho de Santiago. Eles levam uma pedrinha na mochila, que representa o que é preciso deixar ir, e em determinado momento, a colocam numa cruz. Saem, sem olhar para trás. Ou quem sabe, faça essa mentalização com uma pedrinha numa próxima vez que for caminhar perto de um rio, ou numa trilha qualquer, e faça esse gesto. São pequenas formas de rituais que podem trazer benefícios no processo.
Os símbolos falam com a gente
Perceber os símbolos é uma arte que aos poucos vamos aprendendo. Já fui a pessoa muito prática que questionava se tudo isso não era bobagem. Ao mesmo tempo que nunca consegui fugir de ver além. É parte de mim. E foi assim com todos nós. Lembro de um homem falando sobre os Templários, numa igreja do século 12, na minha cidade. Dentre tantas coisas, uma me marcou. Ao me ver olhando pro alto, observando uma imagem ele disse sobre como os símbolos eram importantes numa época que as pessoas não sabiam ler. E sobre como perdemos isso.
É, são muitos os resgates que nossos tempos pedem. Seguir evoluindo, mas sem perder o que é único do humano. Essa capacidade de ver além. De dar sentido.
Até breve, pelas ruas de Florença.