Assis e as viagens do sentir
Falar de Assis é falar de sair de si. Nada mais franciscano.
É também falar de silêncio e paz.
Antes de contar a experiência, vamos lembrar o que é uma Viagem do Sentir.
Estamos acostumados a perceber as viagens como forma de lazer, mas nem sempre é o que precisamos. A proposta aqui é sair do lugar comum. É ter um olhar terapêutico, de exploração do humano que sai do seu território. Das formas de viajar, as que mais gosto, são as viagens de transformação, com olhar direcionado ao que portamos dentro da nossa bagagem emocional.
Viajar para dentro de nós não é tão simples como parece.
A começar pela decisão de não responder à expectativa, velha conhecida, de visitar todos os lugares, seguindo passos alheios e roteiros sem sentido para você. Apenas porque dizem que é assim. É um festival de tem que: tem que ver, tem que comer, tem que entrar em tal e tal local imperdível. E claro, sorrir o tempo todo, estampando a felicidade nos cartões postais. Porque afinal de contas: estou viajando!!! Que é praticamente sinônimo de férias.
Não, viajar não é sinônimo de férias.
E nem pense em tirar férias dos problemas. É pior.
Nada contra as viagens de lazer, pelo contrário! Mas é preciso validar outras formas de sair pelo mundo. Esse papo é mais ou menos como o das falas sobre positividade tóxica, que invadem os meios sociais, e praticamente obrigam as pessoas a mostrarem que estão bem o tempo todo. Imagina viajar e não seguir os altos padrões de felicidade? Sendo que às vezes, tudo que a gente precisa é desse cuidado em terras mais distantes. Pra ver melhor, perceber melhor e decidir melhor.
A viagem é um recorte da vida. Dá pra ver muito de nós quando saímos do nosso cenário habitual.
Viagem de transformação, viagem consciente, viagem com significado. Viagens do Sentir.
São nomes que pedem presença. Sem ela, iremos passar longe dos efeitos positivos de assumir que na mala carregamos também a dor, a raiva, a decepção, a dúvida, o medo. A bagagem emocional é item a ser checado. Tirar os pesos desnecessários.
O lugar realmente importa?
Depende. Não posso diminuir a importância de lugares como Assis, por exemplo. A pergunta do título é apenas para não deixar de fazer este movimento por não ter condições (ainda) de algo mais elaborado, distante.
É só um lembrete para reforçar que podemos ter muita clareza numa simples caminhada. Numa trilha perto da nossa cidade, por exemplo. Lugares de natureza abundante não faltam no mundo. O que conta mesmo é a intenção. Vale lembrar que cidades grandes também entram perfeitamente nessa categoria. É o caos perfeito! Haja recurso pra lidar.
É muito legal saber algo sobre o lugar também. Seja sua história, seus símbolos, pessoas e datas importantes. Gosto de pensar que, de alguma maneira, está tudo no ar. A atmosfera de cada lugar como palco das nossas descobertas internas, nos ajudando a ligar nossos pontos.
Eu e Assis
Foi em Janeiro de 2019 que conheci Assis, comemorando meu aniversário. Era um momento bem difícil e pelas referências que eu tinha, parecia o lugar perfeito. E foi. Era início do meu relacionamento com Mattia e nossa primeira viagem juntos. Fomos até Perugia e no outro dia para Assis. E mais uma vez percebi a sintonia no nosso ritmo.
Eu tenho uma regra: para lugares especiais, pessoas especiais. Não sou de viajar sozinha, prefiro uma boa companhia. A não ser para algo que espero poder contar em breve. Estou, nesse exato momento, procurando um jeito de encaixar dois dias em Assis. Dias de silêncio e oração. Quero ficar hospedada com as freiras. Já tive essa experiência no Vaticano e amei. Só que agora quero ir com mais tempo, especialmente para ver o trabalho delas e visitar algumas igrejas. Vibrem por mim!
São Francisco foi o santo que me fez carregar sua oração na carteira. Nunca procurei saber nada sobre ele, mas aquelas palavras eram tanto do que eu acreditava, que mantive comigo.
O poder dos relatos. Compartilhem suas experiências. A troca é a grande riqueza humana. No meu caso, ouvi minha irmã contar o que sentiu ao ir para lá, depois uma amiga. Eram falas tão cheias de verdade que não pensei muito e decidi que seria o destino no meu aniversário. E fiz um compromisso com o santo mais universal do planeta. Eu estava muito emocionada e me achando meio doida por isso. Na verdade, mais perdida que qualquer outra coisa. Nas minhas angústias, na minha fé, na falta de algo concreto na vida espiritual. Só que tenho em mim uma esperança do tamanho do mundo. E assim, caminho confiante, ainda que nada compreenda.
Assis foi um encontro de paz. Entrar na Porziuncola, o lugar mais amado por São Francisco, é até difícil de descrever. Aquelas pessoas reunidas em silêncio, naquele ambiente tão pequenino, mas tão grande no que representa e emana. A única vontade que dá é de permanecer. Na fé, na oração e no silêncio.
Considero esse dia como um passo para conhecer a vida dos santos. Fui levada em muitos outros lugares sagrados desde então. E sigo me transformando com eles.
A última vez que estive em Assis foi com a minha irmã, meu sobrinho e minha amiga Mariana, que era a peregrina da vez. Ela iria chegar através dos caminhos de Francisco. E nós, havíamos partido de carro, num domingo de manhã, da minha casa. Essa história vou precisar contar em outro artigo.
Posso dizer que a segunda vez foi uma coroação de tudo que vivi em 2019. Dois anos depois, era como se o que já havia sido especial, tivesse ganhado um contorno muito forte. Sabe quando fica impossível negar a presença Divina e sua forma de comunicar? Pois bem, foi assim.
E você? Costuma fazer Viagens do Sentir? Está planejando alguma? Se quiser contar, perguntar, sugerir, pode passar lá na página de contato ou então no Instagram @novas_amelias. É sempre muito bom crescer com vocês.
Até breve!