Roteiros de Alma
É muito fácil encontrar inúmeros roteiros de Florença. Não faltam pessoas incríveis compartilhando as melhores dicas e informações sobre onde ir, o que fazer, onde comer e se hospedar. Comigo não é diferente. Olho, pesquiso, pergunto. A primeira coisa que penso é a hospedagem. Como me conheço, sei que dormir bem é prioridade. E gastar pouco também. Existe uma curiosidade que ficou em mim quando fiz faculdade de Turismo. O lençol branco como parâmetro! hahaha É mais ou menos igual minha colega que para não aparecer os pelos dos gatos, ela não usa roupa preta. É desse jeito. Eu já logo penso que o lugar é sujo se o lençol não é branco. Dessa última vez superei essa parte, mas ao menos as toalhas eram brancas. Ufa.
Depois de resolvida essa parte, começo a relaxar e meditar na viagem. Sim, meditar. Aqui começo, como chamei no título, o roteiro da alma.
Gosto de fazer esse início no meu momento vela, incenso e música. Depois, em silêncio, pergunto a palavra da viagem. E ela vem. Não tem como duvidar. Ela chega e se apresenta tão suavemente que a gente sabe que é ela. Para Florença, foi reencontro. E assim, guardo comigo esse, que será o tom da viagem. Não questiono e nem racionalizo. Apenas guardo.
Em seguida, escolho alguns lugares que quero ver e no caso, que viajei com uma amiga, a Amanda, fizemos o encontro das nossas opções.
Informação útil: Além dos blogs de viagem, confira o site oficial de cada local. No caso de Florença, uma das salas que a gente queria muito visitar no Palazzo Vecchio era o Salone dei Cinquecento. Foi palco de Leonardo e Michelangelo, e apesar de não terem no fim das contas terminado as obras, só de pensar nessa história me traz muita emoção. Dois gênios, naquele lugar. A gente não poderia perder. Pois bem, justo no dia que havíamos programado, a sala estaria fechada para um evento. E esse tipo de aviso a gente só encontra no site oficial. Mudamos a data e foi tudo perfeito. Olha minha cara de felicidade.
Acalme o seu coração. Está tudo certo.
Essa foi a frase que recebi da minha mentora numa sessão, ao contar sobre as várias coincidências em Firenze. E é verdade. Sinto como uma mensagem da vida dizendo pra seguir calmamente. Vou descrever uma aqui, mas foram algumas. Desde coisas muito pessoais, até entrar em lugares não planejados por ter errado o caminho e perceber que alí sim era que deveríamos estar.
Teve também uma igreja nada visível que só descobri porque ouvi minha intuição que me disse pra olhar à esquerda, depois de me guiar naquela rua. Eu nunca vi nada tão bonito como aquele canto. Sentamos e ficamos. Uma experiência divina, eram vozes tão bonitas e suaves que fiquei olhando para descobrir de onde vinham. E eram as freiras. Meu Deus. Nunca vou esquecer. Naquele momento me veio uma resposta clara sobre o servir e meus dilemas com a religião, que um dia será um texto. Ou vários.
Uma viagem com significado é assim. Parece altamente subjetiva, mas ao viver, a gente sente o quanto é prática. O quanto nos ajuda nos nossos processos de autoconhecimento.
Depois de muito passear pelas obras, chega a hora da fome. Ainda de manhã, pensei que gostaria de voltar num lugar que havia ido com a minha irmã em 2016, mas não fazia ideia de onde era. Nada. Nadinha passava como uma pista. Deixei pra lá.
Pois bem, olho um lugar, meu senso diz que não. Mas é tão bonitinho, Emília. Digo pra mim mesma. Huum, ainda não. Olho pra Amanda e pergunto se não era melhor voltar no outro, logo ao lado. Ela diz um sim bem firme e lá vamos nós pedir uma mesa,
Em tempo: na Itália não entramos e sentamos na mesa. Precisa esperar que alguém nos acompanhe.
E gente, não vou fingir normalidade, eu fiquei embasbacada! Adoro essa palavra. Eu simplesmente entrei no mesmo restaurante que havia ido com a minha irmã. Pasmem, nos levaram pra sentar na mesma cadeira de 2016! Demorei a acreditar.
Era como se meus olhos pedissem atenção. Pra eu perceber algo e eu com fome, só pensava em comer. Só que comecei a desconfiar que era o mesmo restaurante. Não lembrava bem do tamanho, comecei a colocar dúvidas, procurava foto, não tinha internet. Na verdade, a confirmação mesmo só veio à noite por causa de uma foto que a Amanda fez de mim, e eu nem sabia. Os azulejos. Foram eles que me fizeram ter certeza. Incrível esses pequenos fatos sem explicação lógica. Realmente, um reencontro. A gente só precisa ir ligando os pontos.
Essas mensagens vem cheias de significados até nós, e racionalmente não sabemos explicar. Apenas nos encantam. O modo como tudo se orquestra é que me faz acreditar nas viagens como forma de autoconhecimento. A palavra reencontro veio meses atrás, e eu vivi esse símbolo de reencontro no restaurante e depois num outro local que comemos. Esse segundo eu procurei. Também foi muito forte voltar lá.
Enquanto no restaurante, eu fiquei tocada, nesse novo, tinha algo para Amanda também. As duas em plena gratidão pela vida e por tudo que aquela viagem estava trazendo em termos de humanidade, beleza, simplicidade e tradição. A felicidade de estar em boa companhia. A amizade que se fortalece.
Logo abaixo, nossa foto no melhor panino de Firenze. O local se chama Alimentari del Chianti e fica em frente ao Palácio Pitti. Bem no finalzinho da praça. Eu, claro, fui falar com a dona que já conhecia o lugar e havia voltado porque ficou na minha memória. Pela qualidade, o ambiente e acima de tudo, o atendimento. Ela me disse que na ocasião, o marido dela havia atendido a gente e que eles haviam acabado de abrir o local. Dessa vez era ela e a filha.
Mostrei as fotos de 2016, falamos um pouco e por fim, ganhamos um licor e um biscoito tradicional da região. Era mais uma prova de que tudo que eu e Amanda precisávamos estava presente nessa viagem.
Olhares humanos em estado de graça pela simples presença. Inteira, com olhos que sorriem.
Com a tradição familiar típica da Itália, a beleza do simples e a qualidade de alto nível.
É isso, é isso!
Foi o que repetimos ao final com os olhos cheios de emoção. Ouvi as palavras da Amanda e vi seu também reencontro. A essência se alegrando por ser mais uma vez vista. E a gratidão, diante do espetáculo do cotidiano bem vivido, diante de nós.
Dos lugares que sabemos querer voltar. Quantas vezes a alma chamar. Por arte, beleza e harmonia. Pelo que nossos olhos jamais se cansam de ver. As grandes obras e as pequenas coisas.
A presto, Firenze!